terça-feira, 29 de abril de 2014

Vila Kennedy no palco

Teatro Mário Lago, na Vila Kennedy, vai reabrir em junho com mobilização comunitária

Um teatro do povo: foi assim que o Teatro Mário Lago nasceu e assim que ele vai reabrir ao público. Uma parceria entre a CUFA (Central Única das Favelas), artistas e produtores culturais locais vem mobilizando os moradores para que o teatro, fechado desde fevereiro de 2013, volte a funcionar. O teatro é o único espaço cultural da Vila Kennedy, que fica em Bangu, Zona Oeste do Rio. A reabertura está prevista para a primeira quinzena de junho.

A iniciativa partiu da base da CUFA na Vila Kennedy, representada por Mário Sérgio de Souza, que reuniu ativistas culturais locais em apoio à reativação do teatro. “Organizamos uma comissão de moradores ligados direta ou indiretamente à cultura para reunir esforços pela reabertura do Teatro Mário Lago, porque entendemos que esse espaço, por ser o único teatro não só na favela, mas em toda a região de Bangu e adjacências, é extremamente necessário. É um espaço que representa muito para a comunidade”, diz o organizador, conhecido como Mário Love na Vila Kennedy.

Em abril, o grupo lançou um blog onde são publicadas as notícias sobre o movimento em prol da reabertura do espaço. A ideia é mobilizar cada vez mais moradores: no dia 10 de maio haverá o Mutirão Cultural da VK, para arrumar o espaço e conversar sobre a nova fase. “Será uma união dos moradores no teatro, não para assistir um espetáculo, mas para reconstrui-lo, melhora-lo e entrega-lo à comunidade em condições aceitáveis para uso”, explica Guilherme Júnior, professor de artes e produtor cultural da Vila Kennedy que integra o movimento.  “O teatro precisa de uma reforma. Estamos fazendo uma mobilização pelas redes sociais e vamos juntos pôr a mão na massa”, diz. O mutirão está marcado para as 8h.

Para arcar com as primeiras despesas na reabertura, o grupo está organizando um leilão de um painel do artista Eduardo Nic, grafiteiro da Vila Kennedy que produziu um painel exclusivamente para a causa. “Estou confiante de que o espaço volte e funcionar como funcionava, com shows, espetáculos, cinema...”, diz Guilherme, que organizou em 2012 um festival de cinema no local, o Curta VK. “Nunca tinha acontecido um festival de cinema na Vila Kennedy, precisamos poder fazer outros e contar com a estrutura do teatro para novos eventos e atividades. Precisamos que ele reabra”, reforça.

Mário também está confiante: “Já temos um reconhecimento local muito significativo, as pessoas entendem a importância de ter um espaço cultural em um lugar estigmatizado e estereotipado pela violência. Há mais de 100 pessoas diretamente envolvidas nesse manifesto de clamor público, mas toda a comunidade está abraçando a causa”.

“Vamos revitalizar o espaço, que vai ser gerido pela CUFA com representantes locais, respeitando os interesses e particularidades da favela. A Vila Kennedy, criada para ser um bairro modelo, em homenagem a John Kennedy, tem toda uma inclinação para o desenvolvimento cultural. Conseguimos exportar talentos, como um coreógrafo da Madonna, mas isso não tem visibilidade. Os movimentos culturais daqui são fortes, queremos o resgate histórico dessa pulsão”, diz Mário.

Uma história de mobilização e criação coletiva

O movimento pela reabertura do espaço resgata também a história de sua fundação, que foi promovida por artistas locais. Fundado em janeiro de 1967 por atores da região, o grupo Potengy foi o responsável pela criação do teatro. Quando a Favela do Esqueleto foi extinta, eu e alguns amigos viemos para a Vila Kennedy. Sentíamos uma grande necessidade de fazer algo, culturalmente falando, e fundamos o grupo para fazer um teatro que fosse além das peças sacras, únicas que eram apresentadas por aqui”, conta Eraldo dos Santos Delles, fundador do grupo.

“O grupo começou com seis integrantes e foi crescendo, conseguimos até uma sede, mas ela só tinha 29 lugares. Então nos juntamos para reivindicar que um depósito [um galpão da Companhia Estadual de Habitação (CEHAB-RJ)] fosse transformado em um teatro. Assim nasceu o Teatro Faria Lima, em 1979, que depois passou a se chamar Mário Lago”, conta Eraldo.

Durante a década de 1980, o espaço conviveu com programações intensas e lotação esgotada – o teatro de revista foi o gênero mais encenado. Artistas consagrados como Sérgio Britto, Blecaute e Zezé Motta já se apresentaram no palco do Mário Lago. Grupos locais encenaram textos de grandes autores como Martins Penna, Bertold Brecht, Maria Clara Machado, Chico Buarque e Ruy Guerra.  O espaço também abrigava aulas de teatro e de dança.

Acompanhe e apoie o movimento pela abertura do Teatro Mário Lago pelo Facebook.

Colaboração de Renata Saavedra
fonte: cultura.rj 

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